terça-feira, 6 de março de 2012

Fevereiro

A grande arte, Rubem Fonseca (3,5/5)

Magníficas obsessões: João Bénard da Costa, um programador de cinema, António Rodrigues (4,5)

Shakespeare, Giuseppe Tomasi di Lampedusa (5)

'Resumir a história contada em A grande arte seria empobrecê-la, pois ela vale mais pela maneira como é narrada que pelos seus incidentes. (E é isto que estabelece uma fronteira entre literatura e subliteratura: nesta, a imaginação do escritor está inteiramente dedicada à anedota, ao passo que na primeira ela está distribuída de modo equitativo, entre o narrado e a maneira de narrar).'
Vargas Llosa, no posfácio a A grande arte, resume numa frase tudo o que penso de Rubem Fonseca : as histórias valem mais pela maneira como são narradas que pelos seus incidentes. Se o manejo da linguagem é explorado até ao cansaço do leitor, fica-se sempre com a sensação - pelo menos nos três livros seus por cá editados e que li - que a meio a trama se esvazia e o escritor se perde.

Note-se ainda como, num parêntese, Vargas Llosa nos explica tranquilamente o que é a subliteratura. E, já agora, Francisco José Viegas - por muito fã que seja de Rubem - não deveria ter aceitado escrever um prefácio a uma obra que tem um posfácio de Vargas Llosa. Compará-los é penoso para o escritor português.

Os outros livros que li o mês passado são absolutamente recomendáveis. Lampedusa escreve sobre Shakespeare com uma simplicidade, sabedoria e liberdade só ao alcance dos muito, muito grandes (*), e António Rodrigues presta uma estupenda homenagem a Bénard da Costa, sem ser apologético.

(*) Apenas dois exemplos, num livro citável de ponta a ponta:

Sobre Medida por Medida (a obra de Shakespeare 'que salvaria se tivessem que perecer todas menos uma'):
'do mesmo modo que marca um dos pontos cimeiros da arte de Shakespeare, também marca indubitavelmente o ponto mais baixo da sua depressão psicológica. Ele estava pior ao escrever Medida por Medida do que quando compôs Rei Lear ou Macbeth ou Timão. Porque nestas últimas tragédias recuperou a força para se irritar e para invectivar. Em Medida por Medida está tão acabrunhado que tudo lhe parece natural. Tocou o fundo.

Guilherme, rei dos poetas, de árdua fonte serena.

É um verso de Carducci. Faz parte das suas Mil e Uma asneiras'.

Sobre Tito Andrónico:

'deve ter agradado muito ao selecto público que já referimos. Como não sou um pirata nem uma mulher de má vida, digo já que é ilegível'.

6 comentários:

pmramires disse...

muito bem, isso do Lampedusa é para comprar então.
(devem estar para breve os minetes públicos à Alexandre Lucas Coelho. vai ser um risote).
abraço

rui disse...

Comprei o livro da ALC, imagina, pelo mesmo motivo pelo que comprei os da Mónica Marques: sou um voyeur incorrígivel.
Da mesma maneira que não resisti a saber como seriam os sonhos eróticos de uma portuguesa com imaginação, tempo vago e dinheiro no Brasil, também não resisti em espreitar a vida erótica de uma 'corespondente internacional'.
Ontem li aí um quarto do livro e, segura-te, estou a gostar.
Aquela prosápia do costume sobre os coitadinhos dos palestinianos e os malvados israelitas quando intercalada com umas cenas de sexo - e amor, não sejamos maus - com um 'correspondente internacional' belga são outra coisa. No final ponho aqui uma posta.

Abraço!

o anão gigante disse...

Sobrevalorizado o Rubem, digo eu.

rui disse...

Eu também acho. Mas acho que mais ninguém acha.

pmramires disse...

Ah, nesse sentido eu também gostei do da Mónica Marques, e quem não leu com verdadeiro prazer o Bilhete de Identidade (?) da 'Mena Mónica? As minhas colegas de trabalho lêem a revista Maria (não estou a gozar) e um gajo, com o mesmo propósito, lê merdas equivalentes. Mas não acho que é isso que a nossa intelligentsia (como diz o outro) vê nela. Antes vislumbra uma genial esperança. Parece que quase a obrigaram a escrever uma merda de um livro (a dúzia de páginas que li na fnac não enganam). Meu Deus, mas se basta ler as crónicas para se perceber a pobreza literária que ali está! Enfim. Estou tão cansado.

Abraço

rui disse...

Se não me engano só lhe deram 3 estrelitas no Público, contra as 5 estrelas que levaram os livros com crónicas.

Eu entretanto meti outras leituras pelo meio e ainda não avancei grande coisa, mas já ia numa fase de mais do mesmo. Vamos ver.
PS: Pois eu tb. li o Bilhete de Identidade num ápice!

abraço