Na recensão a este livro publicada na edição de Março da LER, Rogério Casanova escreve que 'comercializado como um romance, o livro é na verdade um díptico de novelas, cujas subtis e pertinentes ligações internas só se tornam visíveis depois de uma releitura'.
Como eu não efectuei essa releitura (só fiz uma leitura impressionista), essas subtis ligações escaparam-me quase por completo. Aliás a minha reacção às 'duas novelas' foi bastante diferente.
Na primeira, um jornalista vai a Veneza cobrir a Bienal de arte, mas só pensa em ir a festas, beber o máximo número de belinis e, se possível, sair das festas acompanhado. Tem sorte e acaba por conhecer uma mulher por quem se apaixona, o que lhe permite cumprir os três objectivos em larga escala.
Achei-a (à novela) interessante e inteligentemente escrita, batendo com humor no fútil mundo da arte moderna, mas pouco mais. Não fosse o final bastante melancólico e até inusual (o homem é que fica com uma sensação de vazio perante o futuro mais que incerto da relação) e até me teria parecido um bocadinho literatura light (de nível elevado).
Mas a segunda novela elevou a coisa para todo um outro nível e sem dúvida que engrandece a primeira retroactivamente. Quem escreve assim, pensamos, é tudo menos light - e, de facto, a primeira novela passa a exigir uma releitura (que eu teria efectuado se tivesse mais tempo disponível e a pilha de livros e dvds por ler/ver não me stressasse tanto).
Um jornalista, que tanto "pode ser o Jeff de Veneza, ou um avatar do Jeff de Veneza, ou alguém completamente diferente" (Casanova, again), é enviado a Varanasi, a cidade Indiana dos mortos, para uma qualquer reportagem. Mas às tantas apercebe-se que não tem motivo para voltar à Inglaterra natal e vai-se deixando ficar, vai absorvendo com alguma ironia os costumes indianos que achava rídiculos, a sua religião (o Hinduísmo, com o seu 'panteão Disney' ), o seu modo de vida.
Como eu não efectuei essa releitura (só fiz uma leitura impressionista), essas subtis ligações escaparam-me quase por completo. Aliás a minha reacção às 'duas novelas' foi bastante diferente.
Na primeira, um jornalista vai a Veneza cobrir a Bienal de arte, mas só pensa em ir a festas, beber o máximo número de belinis e, se possível, sair das festas acompanhado. Tem sorte e acaba por conhecer uma mulher por quem se apaixona, o que lhe permite cumprir os três objectivos em larga escala.
Achei-a (à novela) interessante e inteligentemente escrita, batendo com humor no fútil mundo da arte moderna, mas pouco mais. Não fosse o final bastante melancólico e até inusual (o homem é que fica com uma sensação de vazio perante o futuro mais que incerto da relação) e até me teria parecido um bocadinho literatura light (de nível elevado).
Mas a segunda novela elevou a coisa para todo um outro nível e sem dúvida que engrandece a primeira retroactivamente. Quem escreve assim, pensamos, é tudo menos light - e, de facto, a primeira novela passa a exigir uma releitura (que eu teria efectuado se tivesse mais tempo disponível e a pilha de livros e dvds por ler/ver não me stressasse tanto).
Um jornalista, que tanto "pode ser o Jeff de Veneza, ou um avatar do Jeff de Veneza, ou alguém completamente diferente" (Casanova, again), é enviado a Varanasi, a cidade Indiana dos mortos, para uma qualquer reportagem. Mas às tantas apercebe-se que não tem motivo para voltar à Inglaterra natal e vai-se deixando ficar, vai absorvendo com alguma ironia os costumes indianos que achava rídiculos, a sua religião (o Hinduísmo, com o seu 'panteão Disney' ), o seu modo de vida.
Há aqui algo de homenagem, paródia, citação, desconstrução, sei lá, daqueles livros em que jovens (mas aqui a nossa personagem já vai nos quarenta e) vão para a Índia ter iluminações místicas (tipo 'O fio da navalha'). Mas aqui não é bem isso. Trata-se de entrar mais profundamente nas coisas: através do cansaço, da desistência, da inércia. Corpo e mente pura e simplesmente vão ficando dormentes, doentes, ausentes (eu nunca passaria num curso de escrita criativa).
" Não quero parecer uma espécie de pseudo-sanyasin. (...) Eu não renunciei ao mundo; apenas, a pouco e pouco, me tornei menos interessado em certos aspectos dele, menos envolvido com ele - e essa diminuição de interesse foi lentamente retribuída. É assim que funciona. O mundo deixa de nos destacar; deixamos de sentir que o mundo nos está a destacar."
'Morte em Varanasi' (e o desfecho da novela estará no titulo) impressiona pelo realismo como nos mostra que uma pessoa parando, libertando-se da rotina que nos obriga a mexer, pode facilmente descobrir que não se interessa lá muito pelo que anda aqui a fazer. É uma novela que marca, que fica, uma pequena obra-prima.
" Não quero parecer uma espécie de pseudo-sanyasin. (...) Eu não renunciei ao mundo; apenas, a pouco e pouco, me tornei menos interessado em certos aspectos dele, menos envolvido com ele - e essa diminuição de interesse foi lentamente retribuída. É assim que funciona. O mundo deixa de nos destacar; deixamos de sentir que o mundo nos está a destacar."
'Morte em Varanasi' (e o desfecho da novela estará no titulo) impressiona pelo realismo como nos mostra que uma pessoa parando, libertando-se da rotina que nos obriga a mexer, pode facilmente descobrir que não se interessa lá muito pelo que anda aqui a fazer. É uma novela que marca, que fica, uma pequena obra-prima.
1 comentário:
Excelente leitura, neste domingo tumultuoso.
Não fosse a minha pilha gigantesca, leria o livro. No entanto, não esquecerei!
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