Um dos extras do meu dvd de 'Fata Morgana' intitula-se 'Film Notes' e é uma breve explicação do filme ou, pelo menos, uma explicação de alguns dos seus aspectos (por exemplo, que parte dos textos, lidos por Lotte Eisner, são retirados do Popol Vuh) e também das intenções do realizador. Assim, ficamos a saber, que para Herzog este é um filme de ficção científica e que tem lugar "no planeta Uxmal, que é descoberto por criaturas da nebulosa de Andromeda, que fazem uma reportagem fílmica sobre isso". Escusado será dizer que é completamente impossível para o espectador saber isto apenas pela visão do filme. Mesmo a sua classificação como 'ficção científica'...
Vejamos a sinopse do filme que é dada no livro 'Sinais de vida. Werner Herzog e o cinema', de Grazia Paganelli (Edições 70):
O filme está dividido em três capítulos: a Criação, o Paraíso e a Idade do Ouro. Na Criação, o Universo navega numa calma perfeita, existindo só o céu e o mar, e as imagens mostram, em movimentos laterais, dunas e montanhas imponentes, interrompidas por poucos momentos civilizacionais. A voz de Lotte Eisner lê passos do Popul Vuh, o livro da criação dos Quíchuas da Guatemala. No Paraíso aparecem figuras humanas em diversas situações, sobre as quais se detém o olhar do realizador. A voz, entretanto, conta-nos como é a vida nas terras paradisíacas e sugere imagens surreais e hipnóticas. A Idade do Ouro, pelo contrário, é o tempo da completa degradação e a natureza é um conceito já esquecido. Um grupo medíocre toca música num baile, alguns turistas saem de um terreno vulcânico, um homem de fato de mergulho mostra bocados de uma tartaruga.
Note-se que mesmo esta sinopse já exige bastante esforço interpretativo. Acrescentar apenas que a banda sonora vai de Handel e Mozart até Leonard Cohen - That's No Way to Say Goodbye, Suzanne, So Long, Marianne - não meros estratos, mas as canções completas ou quase e totalmente fora de contexto (de certeza que Herzog terá uma explicação para ter usado estas canções e não outras quaisquer mas, uma vez mais, o motivo escapa completamente ao espectador. Para mim, que que sou grande fã de Mr.Cohen, contam-se entre os momentos mais belos do filme).
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