[Werner Herzog] era também a única pessoa com quem podia conversar de igual para igual sobre o que eu chamaria o aspecto sacramental da marcha. Partilhávamos da crença que o andar não é uma simples terapia, mas uma actividade poética capaz de curar o mundo dos seus males.
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Um bom exemplo desta filosofia é a sua peregrinação, todos os invernos, para ver Lotte Eisner.
Lotte Eisner, crítica cinematográfica e colaboradora de Fritz Lang em Berlim, emigrou em princípio dos anos 30 para Paris, onde ajudou a fundar a Cinémathèque. Muito mais tarde, escreveu para Lang, que vivia na Califórnia, depois de ter visto o filme de Werner Sinais de Vida: "Vi a obra de um maravilhoso realizador alemão". Lang respondeu: "Não. É impossível".
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Em 1947 (*), ao saber que ela estava a morrer, Werner pôs-se a caminho a pé, de Munique a Paris, convencido que daquela maneira a poderia curar. Quando chegou ao apartamento de Lotte, ela já se sentia melhor e viveu ainda uma dezena de anos.
(*) Há aqui uma gralha óbvia da edição portuguesa; deve ser 1974.
"Werner Herzog no Gana" in "O que faço eu aqui", de Bruce Chatwin, Quetzal Editores
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