No livro ‘A arte do ensaio’ Fernando Savater discorre brevemente sobre 25 ensaios por si seleccionados como os mais relevantes do século. Entre eles inclui-se 'Misticismo e lógica' (1917), de Bertrand Russel.
Numa segunda parte do livro, Savater inclui dois capítulos em que trata um pouco mais alongadamente de dois ensaístas, Miguel de Unamuno e Bertrand Russel. Este ultimo é considerado o possível ‘filósofo do século’ e é mesmo comparado a Voltaire, sendo que uma das características que Savater julga que ambos têm em comum é "o dom - pateticamente ausente em quase todos os grandes pensadores - da mordacidade humorística".
E foi precisamente este aspecto que mais me surpreendeu e encantou ao ler a sua ‘História da filosofia Ocidental’. O à vontade com que Russsel dessacraliza grandes nomes do pensamento ocidental, com comentários do género ‘não se pode dizer que o empirista X fosse uma grande cabeça’, ou ‘é impossível concordar com o pré-socrático Y quando diz disparates como’ deixaram-me primeiro estupefacto e depois com um sorriso nos lábios que não me abandonou até ao fim das suas oitocentas páginas (que li perfeitamente em inglês, numa altura em que o meu inglês ainda era pior do que é hoje).
Claro que se isto não fosse acompanhado por, e citemos novamente Savater, uma "clareza concisa na forma que não regateia as complexidades de fundo" seria gratuito ou supérfluo. Assim sendo, contribui para o maravilhoso estilo de Russel ("no qual está sempre presente, por vezes até ao capricho, a idiossincrasia do autor, a capacidade de contagiar sobriamente a paixão indagadora e um sentido de humor que brinca inclusive nos momentos mais áridos", Savater, novamente), que foi a ultima pessoa a ganhar o Nobel da literatura tendo escrito apenas ensaios (escusado será dizer que Savater pensa que a Academia não se enganou).
Jorge Luis Borges, um mestre do conto e do texto breve, disse um dia que esta ‘História da Filosofia Ocidental’ foi o único texto longo que leu com verdadeiro prazer. Percebe-se perfeitamente a ideia.
Jorge Luis Borges, um mestre do conto e do texto breve, disse um dia que esta ‘História da Filosofia Ocidental’ foi o único texto longo que leu com verdadeiro prazer. Percebe-se perfeitamente a ideia.
2 comentários:
acho que vou comprar então
por este ponho as mão no fogo de caras. depois dizes-me pessoalmente o que é que achaste, eh eh :)
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