sexta-feira, 7 de agosto de 2009

As mulheres são as mesmas. Os homens é que mudaram.

O tio Timóteo (1877-8)

0 tio Timóteo bebeu outro golo de conhaque e, pousando o cotovelo no joelho:

- E é grátis?

Dâmaso fez-se escarlate: “Ora essa! Era uma senhora! Era a viúva de um senador...”

- São as piores. Na Índia é a viúva do coronel. A viúva do coronel é terrível. Eu fui vitima. A única letra que assinei na minha vida, três a quatro por cento ao mês, foi por causa da viúva do coronel. Mas foi a única, porque, no meu tempo... que diabo... havia desinteresse; fazia-se amor, tinha-se graça, havia paixão. Agora, esta rapaziada fria, enfezada, com doenças secretas, raquítica, para apanhar o mais pequeno beijo, tem que abrir os cordões à bolsa. Um chupismo geral! Puh! Ouço às vezes dizer que as mulheres mudaram, estão interesseiras, especulam com o que Deus lhes deu... Qual! As mulheres são as mesmas. Os homens é que mudaram. No meu tempo, eram valentes, brutos, atrevidos, com pancadas prontas, guitarra prá frente e um bocadinho de touro; era um regalo, para uma pobrezinha de Cristo, abrir a porta, de noite, a um destes mocetões... Mas hoje... Vai uma mulher ter prazer com uns malquisedeques enfiados, magricelas, com a espinha derreada, o queixo caído, sem pilhéria nem músculo! Que diabo, fazem elas muito bem; para aturar semelhantes bonifrates... é justo que o bonifrate pague. Eu sou por elas, coitadinhas!

in A Tragédia da Rua das Flores, Eça de Queirós

Um taxista lisboeta na noite de 26 de Outubro de 2006



in Pedro Mexia, Estado Civil

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